"Livro", de José Luís Peixoto, publicado pela Quetzal, é um retrato sobre a emigração, a vida na aldeia, as gentes do interior; sobre os Ilídios, Cosmes, Adelaides e Lubélias que viviam com a incógnita do futuro e com a ausência de alguém como condição de vida; sobre as fontes no meio da aldeia e as cartas escritas entre a saudade e a paixão, ou as mães que não apareciam no escuro da noite para um aperto ou abraço de segurança; sobre as terras lusas, espanholas e francesas, cruzadas por caminhos agrestes, com figuras metaforicamente grotescas ilustrando o desconhecido que se infiltrava no corpo com a partida e que não se diluía na chegada.
"Livro" é sobre um viver que se constitui como parte visceral do que seguramos nas mãos, como se nos lêssemos a nós próprios, sendo envolvidos pela realidade ficcional do autor, ao mesmo tempo que este nos faculta a interpretação ou ponto de vista da sua relação com a escrita, as suas leituras e os seus autores.
"Livro" representa as gerações que envelheceram aos poucos, cá e lá, e que pouco dizem às novas gerações que não sabem envelhecer e o que isso custa; gerações que têm tudo à mão de semear quando antigamente semear era apenas e só tudo o que muitos sabiam ou podiam fazer para terem um bocado de comida quando o sol se punha.
José Luís Peixoto - de uma forma pausada mas real e intensa, características base do seu traço como escritor - revela um país que ao longo dos anos desaprendeu a lavrar os campos, mas que a seu tempo perceberá que tem de aprender a lavrar profundamente o conhecimento, sem esquecer a memória do que fomos, para poder apanhar mais tarde o fruto desse trabalho, dando às gerações futuras a sabedoria que estas não estão a saber agarrar no presente. Podem começar por ler o "Livro".
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