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11 de março de 2011

da escrita


"O segredo de escrever é ser estrábico, ter um olho na bola e outro nos jogadores. Em miúdo espantava-me que os olhos dos lagartos fossem independentes um do outro, mas quando comecei nesta vida descobri-me lagarto numa pedra, à coca, muito quietinho, rodando as pupilas para sítios diferentes, guloso da mosca de uma frase."

António Lobo Antunes, Visão

30 de novembro de 2010

António Lobo Antunes: "Sôbolos rios que vão"

O novo romance de António Lobo Antunes dilui-se de forma positivamente feliz num rio de memórias, de fios finitos atados por personagens presas num puzzle intrincado de emoções e acontecimentos dispersos; saudades escondidas entre a nascente do rio Mondego de onde brotam fragmentos sólidos da infância: os hotéis e os campos de ténis, os pais, o avô a ler o jornal, a harpa e as minas de volfrâmio escavando momentos, os comboios como retornos rítmicos ao passado seguindo um trilho tenuamente definido e com muitas curvas. A.L.A. expõe-se e expõe a fragilidade de um Antoninho ou senhor Antunes que consciencializa de forma gradual que o fim de quinze dias de internamento pode não querer significar o regresso ao quotidiano; expõe a falta de dignidade do que é ser paciente num espaço que por demasiado público se torna incómodo, o hospital, onde não se tem o controlo, onde não se pode esconder aquilo que não se quer mostrar. A.L.A. prova mais uma vez que é um mestre do disfarce e da poesia em prosa. Porque mais do que um romance, "Sôbolos rios que vão" é um longo poema.

19 de novembro de 2010

António Lobo Antunes: "apesar de eu vazio ou seja não vazio"

"(...) conheço desconsolos nas coisas, não conheço nas pessoas e portanto não me queixo, o que é o desconsolo aliás, não tenho ocasião para me entristecer ou não há o espaço no meu peito que a tristeza requer apesar de eu vazio ou seja não vazio porque uma vela num castiçal antigo que a prima que tomava conta de mim plantava à cabeceira,(...)"

in "Sôbolos rios que vão", D. Quixote, p.29

9 de novembro de 2010

Bad boys da Literatura: Lobo Antunes e Michel Houellebecq

Dois dos bad boys da Literatura estiveram em foco por estes dias:

1. Lobo Antunes. A 28 de Outubro foi lançado "Sôbolos rios que vão", mais um título para o cardápio mais original de títulos em língua portuguesa. O escritor que parece estar sempre zangado com tudo e todos, que se pudesse acabava as entrevistas antes de estas começarem, que não tem problemas em criticar o que não aprecia, como se comentasse o tempo, em especial certa literatura portuguesa que parece produzida em série numa fábrica escondida (dica: o autor expoente desse género de literatura é pivot de um noticiário e os seus livros envolvem intrigas parecidas com as de Dan Brown. cf na wikipédia José Rodrigues dos Santos).  O livro referido, "Sôbolos rios que vão", é sobre o senhor Antunes e a sua passagem por um hospital para ser operado a um cancro. A par da guerra colonial e de África é talvez este o tema mais auto-biográfico na escrita de Lobo Antunes. A passagem pelo hospital parece ter humanizado o senhor Antunes, tanto o autor como o personagem.

2. Michel Houellebecq. Nesta segunda-feira, foi anunciado como o contemplado com o prémio Goncourt de 2010 com o "La Carte et le Territoire". Um prémio que dá pouco dinheiro mas muitos proveitos indirectos para o autor e editora em venda posteriores do livro. Michel Houellebecq (nascido Michel Thomas, o Houellebecq é só para chatear) é polémico por natureza, numa atitude que começa nos livros e que continua nas declarações à imprensa, que vão desde a clonagem ao aborto, às diversas religiões e até a acusações de plágio envolvendo o livro que acaba de ganhar o prémio.