Hu Jintao, considerado o homem mais poderoso do mundo (tão poderoso que até um cavalo lusitano se assustou e fugiu da parada), de visita a Portugal neste final de semana, e solidário com os noventa por cento de chineses que trabalham trezentos e sessenta e cinco dias por semana, vinte e quatro horas por dia - representa:
o país que tem um crescimento previsto de 9,5 por cento em 2011 contra os míseros 2,3 por cento dos EUA e que em 2027 ultrapassará o PIB deste país;
o país que através da eléctrica chinesa CPI quer ser accionista de referência da EDP;
o país que quer comprar dívida portuguesa, como compra há muito a dívida de muitos outros países, simplesmente porque pode, aproveitando para gastar a reserva da moeda que tem de sobra;
o país cujos habitantes fornecem as grandes multinacionais com mão-de-obra barata e que só aos poucos começam a aprender o que são momentos de não-trabalho;
o país que nega aos seus habitantes o conhecimento sobre o que se passou em 1989 na Praça de Tiananmen;
o país que em tom de ameaça financeira diz que é perigoso a academia sueca atribuir o nobel da Paz a Liu Xiaobo, preso há mais de uma década por não compartilhar da opinião do regime;
o país que vê centenas de chineses a apoiar o seu líder em frente ao Mosteiro do Jerónimos com bandeiras e sorrisos, mas que quando interpelados por um jornalista sobre os direitos humanos, respondem com silêncios constrangedores;
o país que conseguiu que o Governo Civil de Lisboa deslocasse uma manifestação conjunta da AI e da União Budista para a Torre de Belém para não incomodar o protocolo.
Hu Jintao representa o país que, como referiu José Leite Pereira no JN deste domingo, junta o que de pior têm o comunismo e o capitalismo.
Como no jogo do macaquinho do chinês, o regime fecha os olhos por breves instantes virado contra a parede, mas quando se volta não deixa ninguém respirar, para que não se aproximem do que poucos não querem perder: o poder de comandarem o planeta no século XXI.
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