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20 de janeiro de 2011
José e Pilar, ou apenas José
Pode parecer cruel escrever isto, mas a imagem mais forte que me ficou do filme "José e Pilar", de Miguel Gonçalves Mendes, foi a de Saramago como um homem sozinho, tanto quanto um escritor pode ser um homem sozinho mesmo quando partilha a sua habitabilidade interior com os outros. Saramago viveu claramente fora do seu tempo. viveu desfasado daquilo que seria normal, quer na sua vida íntima quer na publicação dos livros. associado, por vontade própria, e desde sempre, ao comunismo, ateísmo e anticlericalismo, a sua grandiosa Obra sobrevive de forma isolada a esses "pequenos" temas e vive muito melhor até sem isso. Saramago ele próprio foi muito mais do que isso. as suas obras, independentemente da atribuição ou não do Nobel, ainda serão faladas e estudadas daqui a cem anos, e esse é o maior legado de Saramago para o mundo da literatura. Saramago, português e adoptado por terras espanholas, era acima de tudo um escritor universal.
4 de janeiro de 2011
Mario Vargas Llosa, O Sonho do Celta
Fazendo uso das palavras do comité do Nobel da Literatura, que atribuiu o prémio a Mario Vargas Llosa pela sua "cartografia de estruturas de poder e pelas suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual", podemos dizer que este seu último livro será o melhor exemplo dessa descrição. Escrever “O Sonho do Celta” (Quetzal, 2010), lançado na mesma altura em que se soube que tinha ganho o Nobel, foi segundo o próprio, uma grande empresa. Ficcionar a vida de uma personagem riquíssima da história de finais de século XIX e início do século XX, mas esquecida pelo tempo, poderia ter tornado o romance de Vargas Llosa demasiado histórico com tudo o que isso tem de mau – nomeadamente com factos em excesso - mas o autor soube dosear a informação a disponibilizar ao leitor e conseguiu colocar-se de facto na pele da personagem (embora com uma narrativa na terceira pessoa) para relatar a vivência de Roger Casement, “um patriota irlandês”, que percebeu o que queria para a sua pátria depois de sentir o que outros viviam noutros locais do mundo.
O sonho da juventude de Roger Casement, e que fez com que partisse para África, baseava-se nos três C’s: “civilização, cristianismo e comércio livre”. Cedo percebeu no entanto que não era isso propriamente que acontecia por terras africanas, com a balança sempre a pender para a parte do comércio e não no sentido mais justo do termo. Roger Casement ficou revoltado com a perfídia do colonialismo. Não apenas pelo facto de os colonos “invadirem” um país, e tornarem os indígenas praticamente escravos e autómatos. Foi também por os colonos dizerem a esses indígenas que estavam a fazer uma coisa completamente diferente e que era para o seu bem. Roger discutiu isso com várias pessoas com quem se cruzou na sua estadia. Para contrariar todos aqueles que se aproveitavam do desconhecimento e da bondade dos indígenas, havia quem lhe dissesse que tinha ido para lá “a fim de prestar ajuda aos nativos, “que tanto precisam, nesta terra onde Belzebu parecia estar a ganhar a batalha ao Senhor””p.93 (a referência religiosa estará presente ao longo de todo o romance). O próprio Casement constatou a determinada altura - depois de assistir à violência a que eram sujeitos os indígenas - que “se alguma coisa [tinha aprendido] no Congo, é que [não havia] pior fera sanguinária que o ser humano. p.94 É-nos pincelada pelo autor uma vasta galeria de personagens, sobretudo europeus, alterados por África. Há uma discussão constante sobre se são os europeus que em África ficam maus e agressivos, ou se é o território que desperta neles o que têm de pior. Depois de fazer estas constatações ao fim de poucos anos, ele decide lutar contra elas, não com armas, mas com o que sabia fazer melhor: relatar as atrocidades e denunciá-las ao mundo.
A sua estadia em África forma apenas a primeira parte do romance. Seguiram-se depois a Amazónia peruana para onde é enviado pelo governo britânico, e o regresso à sua Irlanda, onde vai viver os maiores dilemas de espírito à medida que a sua saúde se deteriora.
excerto
Se não tivesse feito nos seus cadernos um registo tão minucioso de datas, lugares, testemunhos e observações, na sua memória tudo aquilo andaria em revoada e misturado. Fechava os olhos e, num torvelinho vertiginoso, apareciam e reapareciam aqueles corpos de ébano com cicatrizes avermelhadas como viborazinhas a fender-lhe as costas, as nádegas e as pernas, os cotos dos braços cerceados das crianças e dos velhos, as caras macilentas e cadavéricas, de onde parecia terem extraído a vida, a gordura, os músculos, ficando nelas apenas a pele, a caveira e aquela expressão ou esgar fixo que indicava, mais que a dor, a infinita estupefacção por aquilo que sofriam.p.90
10 de dezembro de 2010
7 de novembro de 2010
1, 2, 3, macaquinho do (regime) chinês
Hu Jintao, considerado o homem mais poderoso do mundo (tão poderoso que até um cavalo lusitano se assustou e fugiu da parada), de visita a Portugal neste final de semana, e solidário com os noventa por cento de chineses que trabalham trezentos e sessenta e cinco dias por semana, vinte e quatro horas por dia - representa:
o país que tem um crescimento previsto de 9,5 por cento em 2011 contra os míseros 2,3 por cento dos EUA e que em 2027 ultrapassará o PIB deste país;
o país que através da eléctrica chinesa CPI quer ser accionista de referência da EDP;
o país que quer comprar dívida portuguesa, como compra há muito a dívida de muitos outros países, simplesmente porque pode, aproveitando para gastar a reserva da moeda que tem de sobra;
o país cujos habitantes fornecem as grandes multinacionais com mão-de-obra barata e que só aos poucos começam a aprender o que são momentos de não-trabalho;
o país que nega aos seus habitantes o conhecimento sobre o que se passou em 1989 na Praça de Tiananmen;
o país que em tom de ameaça financeira diz que é perigoso a academia sueca atribuir o nobel da Paz a Liu Xiaobo, preso há mais de uma década por não compartilhar da opinião do regime;
o país que vê centenas de chineses a apoiar o seu líder em frente ao Mosteiro do Jerónimos com bandeiras e sorrisos, mas que quando interpelados por um jornalista sobre os direitos humanos, respondem com silêncios constrangedores;
o país que conseguiu que o Governo Civil de Lisboa deslocasse uma manifestação conjunta da AI e da União Budista para a Torre de Belém para não incomodar o protocolo.
Hu Jintao representa o país que, como referiu José Leite Pereira no JN deste domingo, junta o que de pior têm o comunismo e o capitalismo.
Como no jogo do macaquinho do chinês, o regime fecha os olhos por breves instantes virado contra a parede, mas quando se volta não deixa ninguém respirar, para que não se aproximem do que poucos não querem perder: o poder de comandarem o planeta no século XXI.
o país que tem um crescimento previsto de 9,5 por cento em 2011 contra os míseros 2,3 por cento dos EUA e que em 2027 ultrapassará o PIB deste país;
o país que através da eléctrica chinesa CPI quer ser accionista de referência da EDP;
o país que quer comprar dívida portuguesa, como compra há muito a dívida de muitos outros países, simplesmente porque pode, aproveitando para gastar a reserva da moeda que tem de sobra;
o país cujos habitantes fornecem as grandes multinacionais com mão-de-obra barata e que só aos poucos começam a aprender o que são momentos de não-trabalho;
o país que nega aos seus habitantes o conhecimento sobre o que se passou em 1989 na Praça de Tiananmen;
o país que em tom de ameaça financeira diz que é perigoso a academia sueca atribuir o nobel da Paz a Liu Xiaobo, preso há mais de uma década por não compartilhar da opinião do regime;
o país que vê centenas de chineses a apoiar o seu líder em frente ao Mosteiro do Jerónimos com bandeiras e sorrisos, mas que quando interpelados por um jornalista sobre os direitos humanos, respondem com silêncios constrangedores;
o país que conseguiu que o Governo Civil de Lisboa deslocasse uma manifestação conjunta da AI e da União Budista para a Torre de Belém para não incomodar o protocolo.
Hu Jintao representa o país que, como referiu José Leite Pereira no JN deste domingo, junta o que de pior têm o comunismo e o capitalismo.
Como no jogo do macaquinho do chinês, o regime fecha os olhos por breves instantes virado contra a parede, mas quando se volta não deixa ninguém respirar, para que não se aproximem do que poucos não querem perder: o poder de comandarem o planeta no século XXI.
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