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21 de fevereiro de 2011

da dignidade dos professores

"Talvez eles me tenham perseguido por eu nunca me ter portado da forma como se esperava que um professor se portasse. (...) Comecei por ser um rebelde (...) Incendiava-me a preocupação de estabelecer a dignidade da minha profissão. Talvez isso os tivesse enfurecido mais do que outra coisa qualquer. A indignidade que tínhamos de suportar como professores na altura em que comecei a leccionar... não ias acreditar. Sermos tratados como crianças. Aquilo que os superiores diziam era lei. Inquestionável. Tem de estar aqui às tantas horas, assinar o livro de pontos a horas. Vai passar tantas horas na escola. E será requisitado para outras tarefas à tarde e à noite, embora isso não esteja mencionado no contrato. Todo o tipo de abusos e mesquinhices. Uma pessoa sentia-se humilhada." in Casei com um comunista de Philip Roth.

30 de novembro de 2010

António Lobo Antunes: "Sôbolos rios que vão"

O novo romance de António Lobo Antunes dilui-se de forma positivamente feliz num rio de memórias, de fios finitos atados por personagens presas num puzzle intrincado de emoções e acontecimentos dispersos; saudades escondidas entre a nascente do rio Mondego de onde brotam fragmentos sólidos da infância: os hotéis e os campos de ténis, os pais, o avô a ler o jornal, a harpa e as minas de volfrâmio escavando momentos, os comboios como retornos rítmicos ao passado seguindo um trilho tenuamente definido e com muitas curvas. A.L.A. expõe-se e expõe a fragilidade de um Antoninho ou senhor Antunes que consciencializa de forma gradual que o fim de quinze dias de internamento pode não querer significar o regresso ao quotidiano; expõe a falta de dignidade do que é ser paciente num espaço que por demasiado público se torna incómodo, o hospital, onde não se tem o controlo, onde não se pode esconder aquilo que não se quer mostrar. A.L.A. prova mais uma vez que é um mestre do disfarce e da poesia em prosa. Porque mais do que um romance, "Sôbolos rios que vão" é um longo poema.

19 de novembro de 2010

António Lobo Antunes: "apesar de eu vazio ou seja não vazio"

"(...) conheço desconsolos nas coisas, não conheço nas pessoas e portanto não me queixo, o que é o desconsolo aliás, não tenho ocasião para me entristecer ou não há o espaço no meu peito que a tristeza requer apesar de eu vazio ou seja não vazio porque uma vela num castiçal antigo que a prima que tomava conta de mim plantava à cabeceira,(...)"

in "Sôbolos rios que vão", D. Quixote, p.29