30 de novembro de 2010

António Lobo Antunes: "Sôbolos rios que vão"

O novo romance de António Lobo Antunes dilui-se de forma positivamente feliz num rio de memórias, de fios finitos atados por personagens presas num puzzle intrincado de emoções e acontecimentos dispersos; saudades escondidas entre a nascente do rio Mondego de onde brotam fragmentos sólidos da infância: os hotéis e os campos de ténis, os pais, o avô a ler o jornal, a harpa e as minas de volfrâmio escavando momentos, os comboios como retornos rítmicos ao passado seguindo um trilho tenuamente definido e com muitas curvas. A.L.A. expõe-se e expõe a fragilidade de um Antoninho ou senhor Antunes que consciencializa de forma gradual que o fim de quinze dias de internamento pode não querer significar o regresso ao quotidiano; expõe a falta de dignidade do que é ser paciente num espaço que por demasiado público se torna incómodo, o hospital, onde não se tem o controlo, onde não se pode esconder aquilo que não se quer mostrar. A.L.A. prova mais uma vez que é um mestre do disfarce e da poesia em prosa. Porque mais do que um romance, "Sôbolos rios que vão" é um longo poema.

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