11 de novembro de 2010

Jim Morrison: Miami revisitada

Comentários breves sobre a notícia do perdão a Jim Morrison no Público.

Público: "O governador Charlie Crist - que está prestes a abandonar as suas funções - indicou que está a considerar o perdão a Morrison, que foi condenado a meio ano de prisão em 1969 por ter gritado obscenidades e ter mostrado os genitais ao público que pagou bilhete para o ouvir." James Blackhill: A quem não pagou bilhete Jim Morrison recusou-se a mostrar os genitais.

“Fiquem atentos”, disse Charlie Crist esta semana ao jornal “The Hill”. “É algo que eu estou disposto a tratar durante o tempo que ainda me resta em funções”. Sim Charlie. Ficamos todos à espera.

O caso remonta a 1 de Março de 1969. O concerto dos Doors no auditório Dinner Key, em Miami, transformou-se num evento mítico que entrou para os anais da história do rock na América. " Referir anais, genitais e 69 na mesma notícia não me parece de bom tom para um jornal como o Público.

Morrison chegou ao local do concerto - que estava a abarrotar - depois de um dia de bebidas e depois de ter visto, na véspera, uma peça provocadora em Los Angeles, recorda o “The Guardian”. Ainda bem que é o Guardian que se recorda. Eu em 1969 também não era muito bom a guardar memórias.

O ambiente era, por isso, explosivo. O vocalista começou a hostilizar o público e a gritar palavrões. Às tantas, perguntou à audiência se queria que ele mostrasse o seu pénis (não exactamente por estas palavras). Pelo que me contaram Jim Morrison terá dito "o meu instrumento" o que levantou dúvidas na audiência e nos próprios músicos.

Não é totalmente claro se acabou por mostrar ou não os seus órgãos genitais porque os momentos seguintes foram confusos, com pessoas a invadir o palco e Morrison à luta com o promotor do espectáculo. Durante o julgamento houve igualmente testemunhas contraditórias e o processo acabou por se transformar num debate acerca da liberdade de expressão. Esta notícia também poderia suscitar um debate acerca deste tão nobre assunto.

Fosse como fosse, Morrison acabou sendo absolvido dos crimes de comportamento lascivo e de embriaguez, mas foi condenado por profanação e por exibicionismo. Foi condenado a uma pena de seis meses de prisão e ao pagamento de uma multa de 500 dólares. O cantor acabou, porém, por pagar a fiança e morrer em Paris, aos 27 anos, enquanto aguardava o resultado do recurso. Já na altura os processos demoravam muito tempo. Os arguidos da Casa Pia devem estar a pensar o mesmo: que vão morrer antes de se saber o resultado do recurso.

O governador Crist já tinha dito, em 2007, que havia “algumas dúvidas acerca da solidez do caso”. Depois de ter perdido, na passada semana - nas eleições intercalares - o seu cargo para o candidato republicano Marco Rubio, o governador tem até Janeiro para emitir um perdão. A que se estava a referir exactamente o governador com solidez do caso?

A reunião final que irá decidir se haverá ou não clemência terá lugar no próximo dia 9 de Dezembro, um dia depois daquele que assinalaria o 68º aniversário de Morrison, caso este estivesse vivo. “Tudo é possível”, prometeu Crist. Jim Morrison já veio dizer que está muito preocupado com este assunto e que espera poder finalmente descansar de vez na paz de Crist.

James Douglas “Jim” Morrison nasceu no estado da Florida a 8 de Dezembro de 1943 e morreu em França, em Julho de 1971. Foi encontrado sem vida na banheira do seu apartamento arrendado em Paris. Como não foram encontrados vestígios de acção criminosa, acabou por não ser realizada nenhuma autópsia, tal como está previsto na lei francesa, o que contribuiu para adensar o mistério em torno das causas da sua morte e reforçou o estatuto de Morrison como lenda da música. Para adensar o estatuto ter-se-ia especulado sobre uma overdose. Isso sim é de homem. Agora o homem tomar banho antes de morrer não me parece muito verossímil.

O artista é ainda hoje considerado como um dos mais carismáticos vocalistas de todos os tempos - em larga medida devido à sua personalidade teatral - e consta no número 47 da lista dos 100 Melhores Cantores de Sempre elaborada pela revista “Rolling Stone”. Nada a acrescentar de relevante. Finally!

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