John Irving entrevistado na Ler por Filipa Melo.
"A realidade é um acidente. Dou sempre um exemplo que adoro porque põe os americanos furiosos. Sou muito cuidadoso na forma como construo os meus romances com plausabilidade e lógica, como uma casa que não pode ir abaixo. Quando um parvo qualquer me diz que é muito pouco crível que alguém confundisse uma mulher com um urso, eu respondo: «Ok, então vamos pensar em mais coisas inverosímeis...» Imaginem que escrevo um romance sobre um locutor desportivo do Midwest, não muito bom no que faz, de quem não gosta muito, mas que lá vai conseguindo uns trabalhinhos na rádio e na TV. Depois, ele vai para Hollywood à procura de emprego e torna-se actor: um mau actor, descuidado, sempre de série «B» e que ninguém leva a sério como actor. Fica famoso e, porque ao contrário dos outros actores tem muito tempo livre, torna-se presidente do sindicato dos actores de cinema. Ele é um péssimo presidente, mas isso parece não incomodar ninguém, e depois ele torna-se um péssimo governador do estado da Califórnia e, logo a seguir, um horrível Presidente dos EUA, mas um muito popular horrível Presidente dos EUA por dois mandatos. Se eu escrevesse este romance, as pessoas diriam que era inverosímil. De facto, a vida real pode ser tão estúpida que exclui qualquer sustentação. É um erro estúpido que um homem tão incapaz como Ronald Reagan alguma vez tenha chegado a ser o que quer que seja, incluindo um mau actor. Eu tenho de trabalhar bem mais e melhor do que isso para contar uma boa história."
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