19 de dezembro de 2010

Nuno Moura: "A fluência de Magda - the new cochicho"

         destinatário alexandre o'neal:


um suicida deixou escrito
ando-me a vingar.


um mal despedido pediu
em tribunal só
que o deixassem ir buscar
as suas últimas coisas
o livro à descoberta de portugal
edição digest
e uma amostra de perfume carminho.


uma amante atrasou-se uma vez
e ele furioso casou com ela.


uma amante atrasou-se uma vez
e ele furioso foi logo divorciar-se.


favores de sangue borrado
dão enlatada na goela.


perante a lei romana do mercado
a igreja prepara agora os primeiros poetas digitais.


um pintor suicida deixou escrito numa pedra
se eu tivesse uma tela tamanho gêtrês
iam perceber.


um amigo dizia ao outro
caso com ela
mas é metade para cada um.


um senhor de idade diz
aceite um último gesto deste cavalheiro
e a senhora de idade responde
abafe-me então.


um comité analisa se as razões pelas quais
nos separamos
são as mesmas pelas quais nos juntamos.


deram mais um poeta
como incapacitado para sentir.


as montanhas azuis da austrália desbotaram
revelando em tamanho autedóre
os princípios originais do senhor não deverás.


não atropelarás não integrarás não passarás
não repugnarás
não te sairá pela culatra
não desmanches que é para mais tarde recordar
não procures água na lua
vai-te casar e está quieto
quem é teu amigo quem é


este trabalho estava inexplicavelmente assinado num canto
por comissão de festas do olimpo
(também se conseguiu saber que o grupo de cantares de
cabaréte
actua às sextas por cima do reino das dinamarquesas
toma nota)


a selecção nacional de poetas seniores continua a empatar
e a de esperanças a não apresentar soluções no ataque.


não é que parta isto tudo
mas reguila.


ps:
oeiras vai ter uma alameda dos poetas
no ano dois mil.
isso ri-te.

in Os livros de Hélice Fronteira, "gosto das mesmas palavras que tu" Mariposa Azual

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